segunda-feira, 28 de maio de 2007

A Capoeira é uma legítima manifestação da cultura brasileira. Ela remota o nosso passado, as nossas raízes e as nossas tradições. Conhecer a Capoeira é conhecer os elementos históricos aos quais ela está associada: Casa Grande, Senzala, Escravo, Feitor, Capitão do Mato, Navio Negreiro, Pelourinho, Quilombo dos Palmares, Zumbi, Princesa Isabel, Abolição da Escravatura, Guerra do Paraguai, Samba, Frevo, Maculelê, Puxada de Rede, etc. O universo cultural da Capoeira é riquíssimo. Tão rico quanto as possibilidades motoras que envolve esta modalidade. A Capoeira desenvolve coordenação, flexibilidade, agilidade, força, velocidade, dentre outros elementos essenciais na formação física de crianças, jovens e adultos. Oferecendo também amplas possibilidades de desenvolvimento emocional, cognitivo e afetivo-social.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Conceito

CONCEITO E DEFINIÇÃO
A capoeira baiana é um processo dinâmico, coreográfico, desenvolvido por 2 (dois) parceiros, caracterizado pela associação de movimentos rituais, executados em sintonia com ritmo ijexá1, regido pelo toque do berimbau, simulando intenções de ataque, defesa e esquiva, ao tempo em que exibe habilidade, força e autoconfiança, em colaboração com o parceiro do jogo, pretendendo cada qual demonstrar sua superioridade sobre o companheiro. O complexo coreográfico se desenvolve a partir dum movimento básico denominado de gingado2 do qual surgem os demais num desenrolar aparentemente espontâneo e natural, porém com um objetivo dissimulado de obrigar o seu parceiro a admitir a própria inferioridade.Dentre as características mais importantes da capoeira destacamos a liberdade de criação, a estrita obediência aos rituais, a preservação das tradições, o culto dos antepassados e o respeito aos "mais velhos" como repositório da sabedoria comunitária.
1a) Ramo da nação nagô, formado por mulheres dissidentes, com rituais religiosos específicos. 1b) Ritmo musical de candomblé, usado no culto de Oxum, Oxalá, Nana Borokô, Nhançan, Yemanjá, Logunedé, Ogum, Oxosse, etc; lento, suave, calmo e magestoso.2) Movimento ritmado de todo o corpo acompanhando o toque do berimbau, com a finalidade precípua de manter o corpo relaxado e o centro de gravidade do corpo em permanente deslocamento, pronto para esquiva, ataque, contra-ataque ou fuga É .o fulcro da capoeira, donde partem todos os seus movimentos! Durante o gingado o praticante deve manter-se em movimento permanente, simulando tentativas de ataque, contra-ataque, sempre atento às intenções do parceiro, em contínua postura mental de esquiva e proteção dos alvos potenciais de ataques."O gingado é alma da capoeira!" nas palavras de Mestre Bimba. Por definição, só podemos aceitar no jogo de capoeira movimentos a partir e gerados do gingado, compatíveis com o ritual da roda e enquadrados no ritmo-melodia do toque de berimbau.
ORIGEM
A capoeira é o processo complexo constituído pela fusão ou caldeamento de fatores de varias origens:1. Dos africanos herdamos os movimentos rituais fundamentais do candomblé: dos iorubás recebemos o ritmo ijexá e a rima tonal a cada 3 estrofes enquanto os bantos nos ofereceram o berimbau, o instrumento fundamental.2. Os portugueses nos doaram: através a dança popular da chula, o uso do improviso (chula), do pandeiro e da viola.3. Os brasileiros forneceram a nomenclatura dos movimentos, os temas dos cantos (fundo cultural literofilosófico popular), o ritual, os métodos de ensino, as modificações fonéticas dos termos usados nos cantos.No Brasil a fusão de elementos africanos aos fatores locais (português e indígenas) originou, a partir do ritmo ijexá, uma família de manifestações culturais, cuja raiz comum lhes empresta uma similitude rítmica e coreográfica, que tentamos explicitar nos gráficos que se seguem. O organograma abaixo procura visualizar, sinteticamente, o caldeamento dos componentes geradores e a associação dos mesmos na composição das várias unidades derivadas.Parece-nos evidente que a capoeira reúne todos componentes originais, o que lhe outorga uma excepcional riqueza artística, melódica e dinâmica; um enorme potencial evolutivo e finalmente, um gama extenso de aplicações esportivas, coreográficas, terapêuticas, pedagógicas, etc, que abrange desde o simples jogo às franjas das artes marciais e da defesa pessoal.


MÚSICA
Na prática da capoeira, por ser esta regida pelo ritmo da sua orquestra de modo similar ao candomblé, adquirem papel primordial as características dos vários toques executados, bem como o acompanhamento do coro e compasso de palmas pelo conjunto de jogadores e dos assistentes.Os mais lentos, calmos, são os preferidos pelos " angoleiros", mais apegados às tradições africanas e aos aspectos lúdicos da capoeira, considerada principalmente como um jogo de habilidades, coreografia e técnica, enquanto os "regionais são mais afeitos aos toques mais rápidos que acentuam a belicosidade inerente ao conceito de luta, objetivo final desta última modalidade.Os principais toque no estilo 'Regional' são: Hino, Cavalaria, Santa Maria, São Bento Grande, São Bento Pequeno, Banguela, Idalina, Santa Maria, Amazonas, Banguelinha, Iuna.É indispensável acentuar que cada mestre impõe aos toques o seu cunho pessoal, sem contudo descaracterizá-los, devido às influências da personalidade de cada qual, ao tom de voz e da afinação do instrumento-rei (o berimbau).
INSTRUMENTOS E ORQUESTRA
Os instrumentos usados na orquestra das rodas de capoeira bem expressam a miscigenação cultural que a plasmaram.O berimbau, monocórdio oriundo do povo banto, cultural e geograficamente distanciado da cultura iorubana, da qual herdamos o ritmo ijexá, o sotaque e a rima tonal no terceiro verso, encontradas no canto dos antigos mestres.A viola, usada no samba de chula, de barravento ou santamarense, da mesma família musical da capoeira, citada por Mestre Pastinha como de uso entre os antigos, é resquício da chula (dança popular portuguesa) ; enquanto o reco-reco, o xequeré e o agogô demonstram a sua filiação ao candomblé.O uso do atabaque como vemos hoje, não tem justificativa histórica, nem tradicional, nem lógica.Na minha vivência, o seu uso é posterior à criação da expressão "Capoeira de Angola" pelo Mestre Pastinha em 1941, para diferenciar seu grupo recém-criado (em 23 de janeiro de 1941), destinado a unir todos os mestres desvinculados do estilo regional, criado pelo Mestre Bimba cerca de 10 anos antes.Seu emprego foi divulgado pelos grupos de apresentação folclórica a partir do "Olodum", fundado por Acordeon, Camisa Roxa, Ezequiel, Itapoan, Flecha, Onias e outros.Mestre Bimba, entretanto,não admitia o seu emprego em treinamento, prática ou demonstrações, dado ao obscurecimento da percepção do ritmomelodia do berimbau, instrumento principal da orquestra ou bateria (como prefere o Mestre Pastinha), gerador e regulador dos movimentos dos parceiros do jogo de capoeira baiana.Dizia o Mestre: "o pandeiro é o atabaque da capoeira", pelo que removia parte dos seus guizos para realçar a marcação do ritmo.
CÂNTICOS
O conteúdo dos cânticos exalta as qualidades do chefe da roda, relata a sua origem ou se refere a fato, personagem ou ocorrência notáveis, atuais ou históricos.A forma de cantar valoriza o tom das vogais antes que a pronúncia correta das consoantes, adquirindo sonoridade mântrica, em harmonia com o tom do berimbau.O canto e som do berimbau se fundem, no estilo angola, numa toada monótona, em que a presença do refrão empresta semelhança à ladainha, dum caráter suave, pacífico, extremamente cativante, permitindo movimentos mais lentos, relaxados, controlados, de grande beleza. Enquanto no estilo regional, o ritmo marcial, mais acelerado, impõe maior velocidade aos movimentos, tornando-os mais agressivos, de caráter reflexo, instintivos e obrigando a maior afastamento entre os parceiros.Cada mestre tem um estilo próprio de tocar e cantar, modificando tema e conteúdo dos cânticos, os quais passam então a identificar cada roda pelo seu fundo cultural literofilosófico, destacando-se o curto improviso, a chula (1), reliquat da dança popular portuguesa deste nome.Além desta, encontramos como categorias de cânticos, o corrido2, as quadras 3 e a ladainha4.O conteúdo dos cânticos geralmente faz parte do repositório da comunidade a que pertence a roda ou repertório própria roda, tais como referências a fatos, personagens históricos, reverenciando-os consoante sua livre escolha, tecendo comentários de conteúdo filosófico ou ligados à sabedoria popular, ditos e axiomas. Destacamos o oriki (chamado de chula pelo Mestre Bimba nos primórdios da regional, conhecido como ladainha entre os atuais angoleiros), a louvação africana, saudação laudatória aos mestres, à terra natal, aos amigos, a Deus, aos Santos e aos orixás, que empresta caráter individual a cada grupamento ou roda.O coro, ritornelo, refrém, estribilho ou refrão, une todos os presentes num canto orfeônico extremamente contagiante, criando uma atmosfera energética que transforma o grupamento social numa entidade global, capaz de geral um estado modificado (transicional) de consciência, coletivo, em todos os participantes da roda, jogadores e/ou assistência. Consoante o estilo e o temperamento do mestre e portanto, da roda, há uma nítida preferência pelo suavidade e lentidão da ladainha (predominante entre os angoleiros) ou pelo calor e velocidade do corrido (mais a gosto dos regionais).
1 - Curto "improviso" de apresentação ou identificação entoado pelo cantador a título de abertura da sua composição. Geralmente faz a louvação dos seus mestres, da sua origem, da cidade, de fatos históricos, de algum outro elemento do fundo cultural da roda. Freqüentemente os cantadores usam uma chula como introdução aos corridos e às ladainhas, durante a qual é sugerido ou indicado refrão a ser entoado pelo coro.2 - A própria denominação já traduz, ou lembra, a aceleração do ritmo que o caracteriza, juntamente com o nexo entre o verso do cantador e o refrão do coro que o repete parcial ou totalmente. O cantador entoa versos de frases simples, curtas, freqüentemente repetidas, e cujo conjunto é usado como refrão pelo coro da roda. O conteúdo do trecho cantado pode ser retirado duma quadra, dum mote, duma ladainha, dum corrido, ou do fundo comunal literofilosófico da roda ou grupo social. A diferenciação no entanto só aparece com nitidez durante a audição do conjunto, pois o mesmo conteúdo poderá ser cantado numa ou noutra categoria conforme a impostação da voz, ritmo, compasso e aceleração que o cantador, a orquestra, coro vocálico e o acompanhamento das palmas, além da própria estrutura, emprestam ao trecho.3 - Curta estrofe de quatro versos, sem interrupção, de conteúdo variável, algumas vezes fazendo sotaques ou advertências jocosas a algum companheiro ou a fatos ou lendas da roda. Geralmente termina com uma chamada ou advertência ao coro, como "Camará!", "Vorta du mundu!", "Aruandê!", "Aruandi!", "Iêê!", "Êêê!", entre tantas outras.4 - A ladainha é o ritmo dolente, lento, como na reza de mesmo nome na igreja católica, o coro repetindo o refrão independentemente do trecho entoado pelo cantador. O conteúdo da ladainha corresponde a uma oração longa, mensagem, desdobrada e relatada em curtas estrofes entrecortadas pelo refrão.
MOVIMENTOS
Todos os movimentos possíveis do corpo humano são admissíveis no jogo da capoeira, desde que sejam realizados a partir do gingado, em concordância com o toque do berimbau; enquadrados no ritual; não acarretem riscos de lesões ou prejuízo moral ao parceiro, aos demais participantes e/ou aos assistentes.Os movimentos da capoeira a são classificados de vários modos:
fundamentais e derivados;
movimentos simples e manobras;
movimentos de esquiva, fuga, ataque, contra-ataque e balões;
golpes, floreios e defesas;
movimentos de entrada, de saída, de pedido ou chamadas;
seqüências de ensino ou fundamental, de balões, especiais (esquetches, defesa pessoal, acrobáticas, etc).
FILOSOFIA
A capoeira, em virtude de sua origem mestiça, tornou-se em repositório da sabedoria das culturas que plasmaram o povo brasileiro.Por ser um processo fundamentalmente musical e coreográfico, originário no candomblé, adaptou a tradição de louvação dos ancestrais (oriki) ao improviso introdutório da dança popular portuguesa denominada de chula, conservando este vocábulo como referencial.Herdeira duma cultura oral, a capoeira apresenta nos cânticos dos antigos mestres a exibição da sua sabedoria através motes, axiomas, referencias históricas, aconselhamento ao modo africano, constituindo um fundo cultural literofilosófico característico do grupo social e da região em que se insere.Por ser atividade lúdica de homens sadios, fortes, conscientes do seu valor, vitimas da escravatura, obrigados a esperteza como fator de conforto e sobrevivência, a sua filosofia é pragmática, um modo de ser, viver e sobreviver da melhor maneira possívelAssociando calma, prudência, tolerância e esperteza, a capoeira tem por fundamento a esquiva, a negaça, a malícia, a simulação e a dissimulação de intenção e objetivo; indispensáveis sobrevivência às dificuldades e a alegria do viver bem.Característica muito importante, também herança da cultura oral, é o respeito aos mais velhos, por serem o repositório da sabedoria grupal; ao lado dos cuidados com a juventude, garantia da perpetuação do sistema social e a integração indivíduo à comunidade, como fonte da segurança do cidadão.A preservação da tradição com abertura ao progresso, possibilita a adaptação do passado ao presente, garante a continuidade no tempo, ajustando o grupamento social às condições históricas e geográficas da comunidade e ao porvir.
EVOLUÇÃO
O jogo de capoeira primitivo, o jogo de capoeira, lúdico, proscrito pela classe dominante, foi modificado na década de 30 por Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba, assumindo a forma de luta que recebeu a denominação de "Luta Regional Baiana"1 procurando escapar ao enquadramento legal e servindo de fundamento para um sistema de defesa pessoal. Sob a simpatia do governo federal a luta regional baiana foi aceita como esporte nacional e reconhecido pelo Comitê Olímpico, atualmente em vias de regulamentação final. A maioria dos mestres permaneceu, entretanto, fiel aos ritos antigos e sob a liderança de Vicente Ferreira Pastinha, Mestre Pastinha, se reuniram e fundaram o "Centro Esportivo de Capoeira Angola"", origem da atual denominação de capoeira angola e de angoleiros.Estas duas formas, inicialmente limitadas à Bahia, se difundiram pelo país inteiro e posteriormente no mundo inteiro.Os angoleiros criaram a Associação Brasileira de Capoeira de Angola, órgão supremo da categoria e com a finalidade de reunir as entidades públicas e privadas deste estilo.Organizada oficialmente sob forma de federações estaduais, associações, ligas, clubes, academias e outras agremiações, a capoeira vem apresentando eventos culturais e desportivos periódicos e sendo objeto de estudos acadêmicos regionais, nacionais e internacionais. Estas formas institucionalizadas da capoeira entretanto não são as únicas encontradas atualmente, sendo comum a prática informal em praça pública e festas populares, sob aspecto de folclore ou "capoeira de rua"2.
1 - Estilo de jogo de capoeira criado por Mestre Bimba na década de 30.2 - A pratica da capoeira fora das organizações oficiais, em ambiente público, está sendo atualmente designada pelo nome de "Capoeira de Rua", a título dum novo estilo (livre de regras e regulamentos) em adição àqueles de "Regional" e de "Angola".
FUNDAMENTOS DA CAPOEIRA
Os fundamentos da capoeira ou, como usam, incorretamente, alguns descuidados da nossa língua, suas "fundamentações", vêm sendo discutidos com certa freqüência a partir do uso infeliz desta palavra pelo Mestre Noronha, que se disse conhecedor único dos seus mesmos, sem os enunciar nos seus obscuros "escritos"...Em trabalho algum encontrei, nem ouvi, conceito, nem definição, do emprego deste vocábulo pelos autores, o que vem aumentando a confusão entre os mestres e capoeiristas dum modo geral. É que nos meios populares baianos, especialmente nos terreiros de candomblé e nas rodas boêmias, o termo adquire uma conotação bem diversa daquela encontrada nos clássicos e dicionários de nossa língua. Uma vez que nestes grupamentos sociais, esta palavra é usado em referência à parte mais secreta e profunda do culto ou prática, somente acessível as camadas mais elevadas da comunidade, adquirindo então um atributo de secreto, sagrado, inacessível aos não-iniciados, ensinamento esotérico, hermético, misterioso, mágico.

ou seja, respeitando-se a grafia original: "Hoje vejo reduzido, os capoeirista, perdeiram suasforças de vontade, não procuram o fundamento, só querem a prender a propria violencia."O trecho acima, manuscrito pelo Mestre Pastinha, ilustra o emprego do termo "fundamento" pelos antigos capoeiristas no sentido de essência de conhecimentos sobre a capoeira, seus princípios morais, seu ritual, sua prática e seus efeitos sobre o comportamento de cada capoeirista, a razão de ser do seu ritual e do comportamento do jogador, bem como a sua origem, a influência relativa de cada um dos seus componentes, sua música, seu ritmo, seus cânticos, etc.Concordando com Esdras "Damião" na estranheza do uso de Fundamento e Fundamentação no linguajar dos capoeiristas antigos e modernos (dialeto capoeirano?) vivo procurando porque tanto ênfase neste conceito.Do longo convívio nos meios de capoeira, nos centros de candomblé e durante a prática médica nas classes menos favorecidas pela Deusa da Fortuna, posso extrair vários sentidos encontrados.Inicialmente impõe-se o sentido de conhecimento teórico ou prático sobre assuntos de qualquer natureza, independente de estudos formais.Quando se fala em idéia ou comportamento sem fundamento indica-se a falta de razão subjacente ou de base para tal.Há uma nuança de mistério, de sacralização, quando empregada em referência a conhecimento reservado a certos grupos sociais como dos feitos do candomblé. Como no caso dos antigos mestres que se proclamavam detentores dos fundamentos da capoeira... somente eles o possuíam...Ser conhecedor dos fundamentos da seita ou de qualquer outro ramo de atividade humana, social, científica ou artística é altamente valorizado nestes ambientes culturais baianos; motivo de orgulho e jactância, algo muito especial e envaidecedor.É com admiração que se diz: "Fulano conhece muito bem os fundamento de samba!", enquanto outros estufam o peito e se gabam de serem os únicos conhecedores disto ou daquilo... especialmente entre os menos favorecidos de inteligência, cultura e sobretudo, modéstia... apesar de bem providos de auto-estima e vaidade.É freqüente e natural, o intitulada "de conhecedor dos fundamentos" desdenhosamente se recusar a transmitir aos não-iniciados aqueles mistérios sagrados, dotados de poder mágico.A atrapalhação provocada pelo emprego descuidado desta palavra por alguns estudiosos pouco habituados ao linguajar popular baiano, especialmente do seu uso nas rodas boêmias e nos terreiros de candomblé, aumentou pelo aparecimento de divagações literárias em torno de assunto, cuja definição e conceito os autores sequer conheciam, sem se aperceberem da leviandade, nem da gravidade da falha da científica cometida... palavras bem entoadas, frases bem torneadas, porém vazias... diríamos "sem fundamento" num barzinho da rua do Julião!A propósito de "FUNDAMENTO" o "Novo Dicionário Aurélio"arrola os seguintes significados:
1. Base, alicerce. 2. Razões ou argumentos em que se funda uma tese, concepção, ponto de vista, etc.; base, apoio.3. Razão, justificativa, motivo.4. Aquilo sobre o que se apóia quer um dado domínio do ser (e então o fundamento é garantia ou razão do ser), quer uma ordem ou conjunto de conhecimentos (e então o fundamento é o conjunto de proposições ou de idéias mais gerais ou mais simples de onde esses conhecimentos se deduzem).
Do acima transcrito entendo que devemos a aceitar por definição como "fundamentos da capoeira" a sua razão de ser e as justificativas de sua maneira de ser, isto é os elementos que a identificam como "SER" em nosso mundo conceptual.A primeira indagação que surge em nossa mente ao analisar o assunto é - QUE É O JOGO DE CAPOEIRA? A resposta técnica é "A capoeira baiana é um processo dinâmico, coreográfico, desenvolvido por 2 (dois) parceiros, caracterizado pela associação de movimentos rituais, executados em sintonia com ritmo ijexá, regido pelo toque do berimbau, simulando intenções de ataque, defesa e esquiva, ao tempo em que exibe habilidade, força e autoconfiança, em colaboração com o parceiro do jogo, pretendendo cada qual demonstrar habilidade superior à do companheiro. O complexo coreográfico se desenvolve a partir dum movimento básico denominado de gingado, do qual surgem os demais num desenrolar aparentemente espontâneo e natural, porém com um objetivo dissimulado de obrigar o seu parceiro a admitir a própria inferioridade. Dentre as características mais importantes da capoeira destacamos a liberdade de criação, a estrita obediência aos rituais, a preservação das tradições, o culto dos antepassados e o respeito aos mais velhos como repositório da sabedoria comunitária." Ou poeticamente:
"A capoeira é uma luta...ensinada e praticada como dança!podendo ser usada como defesa...e como ataque...numa hora de "percisão"!nas palavras dos MestresBimba e Pastinha!A capoeira é uma arte...a arte de bem viver!DISPUTADA COMO LUTA..."mata até sem querer!"... dizia Mestre Bimba..."e o bom da vida é não morrer!"... completava Mestre Pastinha!
OS FUNDAMENTOS DA CAPOEIRA
A prática da capoeira se desenvolve obedecendo aos seguintes parâmetros:
ritmo ijexá regido pelo berimbau;
movimentos rituais ritmodependentes;
disciplina e respeito à tradição, aos mais velhos e aos companheiros;
parceria;
movimentos em esquiva, circulares e descendentes;
dissimulação de intenção;alerta, calma, relaxamento e autoconfiança permanentes;
estado de consciência modificado (transe capoeirano); como analisaremos a seguir.
RITMO IJEXÁ
Por ser uma manifestação coreográfica do ritmo africano ijexá, o enquadramento dos movimentos da capoeira ao mesmo é fundamental à sua prática, conservando a continuidade da sua dinâmica, sem que se quebre a seqüência dos mesmos.O andamento do toque ijexá leva uma estado transicional de consciência calmo, pacifico, prazeroso, possibilitando um jogo sem violência e bem cadenciado, permitindo aos parceiros estudo, análise, reflexão e criação de gestos rituais capazes de enriquecer o cabedal de reflexos de defesa, de esquiva e contra-ataques, que compõem o perfil do comportamento do verdadeiro capoeirista.A aceleração excessiva do andamento provoca um estado de excitação incompatível com a calma indispensável à prática da capoeira, além de impossibilitar o gingado, transformando uma atividade lúdica em agressiva e potencialmente lesiva ou letal.A observação dos movimentos rituais gerados pelos diferentes toques de atabaques, especialmente entre o ijexá dum lado e aqueles de alujá e adarrum, esclarecerá nitidamente a importância da cadência do toque da orquestra no desempenho dos parceiros do jogo de capoeira, do seu comportamento e estado mental.
MOVIMENTOS RITUAIS RITMODEPENDENTES
O conjunto dos movimentos dos participantes para ser reconhecido como jogo de capoeira deve ser ajustado ao ritmo/melodia do toque da orquestra e obedecer às regras tradicionais de cada estilo, especialmente àquelas que garantem a segurança da sua prática, i.e., a não-violência. A capoeira baiana é, por definição e princípio, uma luta dissimulada sob forma de dança ou uma dança guerreira, ou ainda como declarou José Roberto "Pingo" (18 anos), aluno e filho pela capoeira de Mestre Canelão (Natal, RN):"A capoeira não é violência, é um esporte, uma brincadeira sadia... a luta fica escondida."Além do enquadramento dos movimentos ao ritmo e à melodia, é indispensável a estrita adesão ao seu ritual, isto é, às regras tradicionais que regem sua prática e garantem a segurança dos participantes. m acordo de cavaleiros, um código de honra, transmitido pela tradição oral entre as gerações, desde suas origens, como disse o Venerável Mestre Pastinha nos seus "Manuscritos e Desenhos":


..."aprender municiosamente ás regras da capoeira"..."... todos aqueles que queira se dedicar a esse esporte, que como capoeirísta; quer como juiz? Deve procurar minuciosamente ás regras da capoeira de angola"; para que possa falar ou dicidir com autoridade. Infelizmente grande parte de nossos capoeiristas tem conhecimento muito incompleto das regras da capoeira, pois é o controle do jogo que protege aqueles que o praticam para que não discambe excesso do vale tudo,"... (8a,15-23; 8b,1-2)Assim o Venerável Mestre Pastinha sabiamente reitera: é indispensável o código honra a ser obedecido pelos capoeiristas, pois "é o controle do jogo" pelo juiz, pelas regras, regulamentos e pelo ritmo da orquestra, "que evita a violência e os acidentes"... vale a repetição!
DISCIPLINA E RESPEITO À TRADIÇÃO, AOS MAIS VELHOS E AOS COMPANHEIROS
Nas sociedades de cultura oral, como as africanas, o liame entre as gerações é indispensável à sobrevivência do grupamento e dos indivíduos, valorizando os mais velhos como depositários confiáveis da sabedoria e da experiência, imprescindíveis à educação dos mais jovens e menos experientes.Manifestação cultural pela sua própria natureza, a capoeira depende da aproximação das gerações, o que integra a sociedade transformando-a num monólito, capaz de resistir às influências externas e perdurar no tempo.A postura de respeito aos mais velhos certamente conduz àquela de respeito, estima e consideração aos companheiros de geração, os seus parceiros, unindo o grupo social, transformando-o numa família, num clã, num agrupamento tribal, numa unidade fundamental indissolúvel (com "sprit de corps", diria o Gal. Lieauty) à qual todos se orgulham de pertencer, como todos fazemos com nossa roda de capoeira.
PARCERIA
Do respeito às tradições e aos mais velhos facilmente alcançamos a noção de parceria, indispensável ao aprendizado, ao ensino e à prática da capoeira.A capoeira, atividade fundamentalmente guerreira, intrinsecamente belicosa, potencialmente lesiva e mortal, não pode ser praticada sem confiança recíproca, sem um compromisso de não-agressividade, de não-violência, de respeito mútuo, como são as suas tradicionais regras do jogo, o seu ritual.A este elo de camaradagem e respeito mútuo chamamos de "parceria", sem ele, morreriam todos os alunos no início do aprendizado ou desistiriam, tal a gravidade das suas lesões!
Sem a parceriaCada "volta do mundo" seria uma batalhaCom morte do vencido e sem vencedor!A Capoeira seria então o próprio ApocalipseCada Mestre o seu Cavaleiro!
MOVIMENTOS EM ESQUIVA, DESCENDÊNCIA E CIRCULARIDADE
Dizem os orientais que a esfera é a forma da perfeição e o círculo sua expressão mais autêntica.Na dança ritual do candomblé os movimentos são circulares, manifestando em cada segmento e no conjunto o acoplamento ao toque (ritmo e andamento) de cada orixá.Os movimentos circulares são os únicos que propiciam a esquiva, o escape da linha direta do ataque sem o afastamento para traz, que dificultaria ou impossibilitaria o contra-ataque.Na capoeira, os movimentos, principalmente os deslocamentos, devem ser circulares ou melhor esféricos, girando em torno do centro de gravidade do parceiro, escapando ao seu ataque e contornando o seu flanco à procura dum ponto fraco ou abertura na guarda.As esquivas descendentes, geram movimentos melhor apoiados no solo, portanto mais seguros, permitindo também a procura dos pontos mais baixos do corpo, habitualmente os mais vulneráveis, do adversário simulado.Com a vantagem de que o jogador pode usar nesta postura os quatro membros e a cabeça como pontos de apoio no solo, além de dispor de maior amplitude de deslocamento, que aumenta a velocidade e força viva dos ataques e contra-ataques.Sem falar que a rasteira, antigamente tão usada no jogo de capoeira e hoje tão raramente presenciada, é mais facilmente executada em posição mais agachada.A atitude de esquiva é fundamental na capoeira, protegendo o praticante dos ataques, enquanto permite aproveitar a quebra da guarda, que sempre ocorre durante o movimento de ataque, para um contra-ataque oportuno.
DISSIMULAÇÃO DE INTENÇÃO
Decorrência da definição e conceito da capoeira baiana como uma dissimulação de luta sob forma de dança, adquire a simulação de intenção e a dissimulação depropósito ou de objetivos, um papel preponderante nesta vadiação dos mestiços do recôncavo baiano.Joga melhor o mais inteligente, o mais manhoso, o mais malicioso, o mais enganador;o mais mentiroso, o mais mandingueiro, aquele que conseguir convencer o companheiro de algo que jamais fará e se aproveitar do gesto em falso do parceiro para desferir o seu golpe verdadeiro. É preciso "pegar" o parceiro desprevenido, depois de atraí-lo para o "laço", para a armadilha em que o mesmo se enredará sem violência e sem maior esforço de parte do atacante.O floreio, especialmente aqueles executados com os membros superiores, por não afetarem a postura e equilíbrio, nem exigir deslocamento espacial, é o instrumento mais adequado para simulação de ataques e/ou dissimulação de intenção ou objetivo.O floreio mais eficiente é aquele que traz no seu bojo potencial de ataque a ser desencadeado instantaneamente no momento propício.
ALERTA, CALMA, RELAXAMENTO E AUTOCONFIANÇA PERMANENTES
O capoeirista necessita manter contínua sintonia com a mente do parceiro para detectar suas reais intenções e assim poder antecipar-se aos seus gestos e movimentos, seja de floreio, seja de ataque ou de esquiva.Desta postura mental brota naturalmente o permanente acoplamento do indivíduo ao ambiente vizinho. Uma eterna vigilância. Um nexo inconsciente entre o indivíduo e o meio, que empresta ao capoeirista um ajustamento instantâneo às variáveis exteriores sejam físicas ou espirituais, que o conduz à premunição dos perigos e às reações, defensivas ou de esquiva, adequadas.Muitas vezes o contra-ataque surge, surpreendente como relâmpago em dia de sol, como bote de jararaca aparentemente adormecida.Na minha opinião, esta é a razão maior da influência comportamental nos deficientes, da melhoria do rendimento intelectual concomitante e das suas condições psicológicas. Somente a calma absoluta permite o relaxamento indispensável ao desencadeamento dos reflexos de defesa, ataque e contra-ataque com tempo mínimo de latência.Apenas em perfeita tranqüilidade conseguimos manter oestado de alerta em relaxamento; capaz de liberar todas as vias neuroniais, aferentes e aferentes, para o trânsito dos estímulos periféricos e reações motoras reflexas, inconscientes e instantâneas, de esquiva, defesa, ataque e contra-ataque, características do capoeirista, durante o jogo ou em momento de perigo.Podemos assim valorizar a advertência do Venerável Mestre Pastinha ao declamar:"Quanto mais calmo o capoeirista... melhor para o capoeirista..." Com o passar do tempo, a repetição interminável de situações de perigo aparente ou real, o eterno suceder de imprevistos que desencadeiam reações instantâneas, algumas surpreendentes, porém sempre adequadas, gera uma atitude inconsciente de autoconfiança, a qual facilita mais ainda o desenvolvimento deste processo de preservação da integridade do SER, a jóia mais preciosa que a capoeira pode oferecer ao seu aficionado. É a "tranqüilidade dos fortes" ou, como prefere Esdras "Damião", "a calma é a virtude dos fortes!"
ESTADO DE CONSCIÊNCIA MODIFICADO (O TRANSE CAPOEIRANO)
Sob a influência do campo energético desenvolvido pelo ritmo-melodia ijexá e pelo ritual da capoeira, o seu praticante alcança um estado modificado de consciência em que o SER se comporta como parte integrante do conjunto harmonioso em se encontra inserido naquele momento. O capoeirista deixa então de perceber a si mesmo como individualidade consciente, fusiona-se ao ambiente em que se desenvolve o jogo de capoeira. Passa a agir como parte integrante do quadro ambiental em desenvolvimento. Agindo como se conhecesse ou percebesse simultaneamente o passado, o presente e o futuro... tudo que ocorreu, ocorre e ocorrerá a seguir... ajustando-se natural, insensível e instantaneamente ao processo atual.
JOGO
A prática da capoeira como jogo, é a sua forma original, a única que merece o nome de tradicional, o tronco donde emergem os demais aspectos e aplicações da capoeira, seja sob forma de luta, aplicações pedagógicas, médicas, acrobáticas, coreográficas ou de defesa pessoal.Através sua prática chegamos à recuperação ou mantença da aptidão física na terceira idade e a desenvolver o jeito brasileiro de viver ou seja, viver "de bem com a vida".
DESPORTO
Por ser uma atividade complexa abrangendo numerosos componentes, tais como:musica orquestrada e orfeônica (instrumental, ritmo, melodia, canto de conteúdo literofilosófico, etc); coreografia; lúdico (jogo); pugilísticos (luta); parceria; habilidade acrobática; ritual; conhecimentos e habilidades técnicas sistematizadas; seqüências de defesa pessoal; etc, a capoeira apresenta diversas categorias para apreciação e julgamento ou competições. Assim é que podemos realizar concursos de variadas naturezas, tais como:
jogo individual de habilidade técnica;
jogo de habilidade técnica em parceria;
coreografia individual;
coreografia em parceria (dupla);
demonstrações de seqüências de movimentos de ensino em parceria;
jogo individual de habilidade acrobática;
jogo de habilidade acrobática em parceria (dupla);
demonstrações de seqüências acrobáticas (esquetches);
concurso de orquestras;
concursos de cânticos (chulas, quadras, ladainhas e corrido);
concurso de letras e seu conteúdo literofilosófico;
concurso de ritmo e melodia; etc.
LUTA
A pratica da capoeira sob qualquer de seus estilos desenvolve os verdadeiros fundamentos de qualquer método de luta ou defesa pessoal, como
sentido de alerta ante os perigos, aparentes ou não;
os reflexos de esquiva, fuga, defesa e contra-ataque;
aptidão física;
força, flexibilidade e agilidade;
disciplina, autoconfiança e humildade.
Mesmo sem o treinamento especial, o capoeirista, pelo seu modo de ser (tranqüilo, alegre e afável), está apto a se esquivar de situações de conflitos (a melhor defesa pessoal segundo o Mestre Kazuo Yoshida é não se envolver em discussões e brigas) e até a se defender fisicamente de situações de agressão desarmada ou de se safar com um mínimo de estragos de possíveis agressões armadas.
DEFESA PESSOAL
A prática freqüente do jogo de capoeira com ênfase na esquiva, cria uma série de reflexos defensivos, inconscientes, abrangendo esquiva e contra-ataque, que constituem um sistema de defesa pessoal, ajustado a cada situação atual, independentemente de experiência anterior do quadro presente. Ao contrário das artes marciais, a capoeira por ser um constante improviso, vai se ajustando a cada nova situação, instantaneamente, através dos reflexos criados pelas situações vivenciadas no dia a dia do seu jogo.A defesa pessoal do capoeirista é instintiva e vem acoplada à pratica da capoeira como jogo, em decorrência lógica da atitude mental de esquiva e da simulação constante de situações de perigo iminente no jogo; podendo entretanto ser aperfeiçoada pelas seqüências especiais nos estágios mais avançados do treinamento pessoal.
PEDAGOGIA
O jogo de capoeira, por ser uma simulação de luta, por não envolver ostensivamente o perigo implícito desta última, permite o desenvolvimento da auto-confiança e dos reflexos de adaptação a condições de perigo.Simultaneamente, o transe capoeirano, liberando as reações de ajustamento às condições externas do freio da consciência e do medo, torna-se um instrumento precioso no desenvolvimento duma personalidade sadia.A disciplina exigida pela prática da capoeira acresce novos valores à personalidade do aprendiz, tais como o respeito à ética, o cumprimento das normas e regulamento, a obediência os preceitos e tradições, a noção de parceria e o companheirismo indispensáveis ao aprendizado, os quais contribuem para a formação do caráter forte e equilibrado.
APTIDÃO FÍSICA
A capoeira pelos seus atributos:
riqueza de movimentos envolvendo alongamentos, relaxamentos, contrações isométricas e isotônicas;
prazer do balanço ritmomelódico e o envolvimento dos 3 aspectos do SER (corpo, alma e espírito);
modificação estado de consciência, abolindo os bloqueios; conscientes, subconscientes ou inconscientes, bem como o estresse;
solicitação pneumocirculatória;
estabelecimento de reflexos de autopreservação e defesas anti-traumáticas e a conseqüente abolição do medo;
ativação sensorial e motora das vias de condução interneuronais e dos centros de controle cerebrais e espinhais;
aperfeiçoamento dos mecanismos de equilíbrio corporal;
comprometimento de todo o corpo no processo de treinamento;
aprimoramento do sentido de localização espacial;
desenvolvimento da visão periférica;
globalização ou integração de todos setores orgânicos;
socialização pelo ritual de respeito, disciplina e parceria; permite a elaboração de sistemas de capacitação física, individuais ou coletivos, seguros, ajustáveis às condições individuais de cada praticante (desde que acompanhado por profissionais competentes).
PSICOTERAPIA
A prática do jogo de capoeira, por ser este uma coreografia dialética simulando e dissimulando intenção ou condição de perigo, cria uma atitude mental de confiança nos próprios recursos para sobreviver aos perigos. Incorporando os reflexos defensivos e a autoconfiança. Banindo os bloqueios nervosos, que paralisam os mecanismo de auto-preservação, pela certeza de que estamos apenas brincando, dramatizando ou simulando em segurança uma condição de perigo, lentamente apresentada e da qual sabemos previamente que podemos escapar pela meio de simples esquiva.Eliminam-se assim o medo, a timidez que são substituídos pela espontaneidade, extroversão e alegria.
CAPOEIRA NA TERCEIRA IDADE
A pratica da capoeira,
pela multiplicidade de seus movimentos,
pela facilidade de ajustamento às condições pessoais de cada praticante,
pelas modificações mentais que acarreta,
pela integração entre os vários componentes do Ser,
por ser uma atividade fundamentalmente lúdica e portanto prazerosa,
por desenvolver uma estado transicional de consciência capaz de escapar aos bloqueios de natureza mental e às limitações físicas do praticante,
por se prestar a inúmeros níveis de carga de trabalho; pode ser usada como método de manutenção da aptidão física, de capacitação ou de recuperação da aptidão física, correção de desgastes pela idade ou seqüela de complicações decorrentes de doenças próprias do envelhecimento.
Cumpre entretanto realçar que sua prática depende de avaliação prévia das condições orgânicas e funcionais do candidato e acompanhamento médico adequado para impedir possíveis complicações por sobrecarga de esforço.
REEDUCAÇÃO MOTORA
O acompanhamento musical e o jogo em parceria facilitam a eliminação dos bloqueios e liberam os movimentos, enquanto a prática individual possibilita o trabalho mental de concentração nos músculo comprometidos, complemento indispensável ao bom êxito do trabalho.Em reeducação motora poderemos usar movimentos repetidos envolvendo os músculo lesados, selecionados entre aqueles da seqüência fundamental de ensino, a partir do gingado, sob ritmo de berimbau, seja em prática individual, seja em prática individual, seja em parceria.

Biografia de alguns mestres

MESTRE PASTINHA - BA (1889/1981)
"A Capoeira é tudo que a boca come e tudo que o corpo dá"
Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, filho de pai espanhol e mãe baiana, é um dos mais importantes "Velhos Mestres da Capoeira". Foi um dos fundadores do Centro Esportivo de Capoeira Angola e teve como Mestre o negro e ex-escravo Benedito. Artista, poeta, escritor, filósofo e, acima de tudo em Capoeira, Mestre Pastinha conta em sua obra com o livro "Capoeira Angola", publicado em 1964 e com disco fonográfico "Capoeira Angola -Mestre Pastinha e sua Academia" (Philips. 1969). Conquistou a admiração de renomados artistas e intelectuais como Jorge Amado, Carybé, Mário Cravo, dentre outros que tiveram o privilégio de conviver com o Mestre. Participou, representando o Brasil, do I Festival Internacional de Arte Negra de Dakar ."Seu Pastinha", ainda hoje, é considerado como o grande divulgador do "Tao da Capoeira"

MESTRE BIMBA - BA (1900-1974)
"A aranha vive do que tece"
Manoel dos Reis Machado, baiano de nascimento, filho de Luís Cândido Machado e de Maria Martinha do Bonfim, iniciou-se na Capoeira em 1912 com Bentinho, um Capitão da Cia de Navegação Baiana. Lutador por excelência, Mestre Bimba na década de 30, cria a "Capoeira Regional" como uma forma de "resgatar" a característica de luta da Capoeira. Em 1932, funda a primeira academia de Capoeira do mundo, existente até hoje no Centro Histórico de Salvador. No decorrer de sua mestria, teve como alunos pessoas influentes e de destaque da sociedade baiana como o Dr. Antônio Carlos Magalhães, o Dr. Lomanto Júnior e o Dr. Decânio entre outros. Mestre Bimba é considerado por muitos, como o "Pai da Capoeira Moderna" - já que criou um método próprio de ensino - e também como um dos grandes responsáveis pela aceitação. da Capoeira como uma modalidade de Esporte, interrompendo o processo de repressão policial e amenizando a discriminação social sofrida até então.
MESTRE NORONHA - BA (1909/1977)
"O capoeira deve ser muito educado ao ser apresentado nos altos meios sociais. Se valente, deixar de lado esta vida que já se passou. Devemos adquirir lastro de amizade. É o que devemos fazer".
Daniel Coutinho, nasceu em Salvador (BA), na Baixa do Sapateiros e iniciou seu aprendizado na Capoeira com Cândido da Costa (Cândido Pequeno) aos 8 anos de idade. Foi engraxate, estivador, doqueiro, trapicheiro e ajudante de caminhão. Junto com Livino, Maré, Amorzinho, Aberrê, Percílio, Geraldo Chapeleiro, Juvenal Engraxate, Geraldo Pé de Abelha, Zehí, Feliciano Bigode de Seda, Bom Nome, Henrique Cara Queimada, Onça Preta, Cimento, Argemiro Grande, Argemiro Olho de Pombo, Antônio Galindeu, Antônio Boca de Porco, Cândido Pequeno (Argolinha de ouro), Lúcio Pequeno e Paquete do Cabula fundou o "Primeiro Centro de Capoeira Angola do Estado da Bahia", em Ladeira da Pedra, Gengibirra, na Liberdade. Com Livino fundou, também o "Centro de Capoeira Angola da Conceição da Praia". Deixou seus manuscritos organizados por Frede Abreu e publicados pelo Programa Nacional de Capoeira, intitulado "ABC da Capoeira Angola".
MESTRE COBRINHA VERDE - BA ( 1917 - 1983 )
"Dois angoleiros que entendem de luta não podem disputá-la, porque um quer vencer o outro e pode aplicar um golpe mortal"
Rafael Alves França, mandingueiro respeitadíssimo no seu percurso por este mundo de meu Deus. Nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA). Com 4 anos de idade iniciou-se na Capoeira pelas mãos de Besouro, seu primo carnal. Além de seu primeiro mestre, Cobrinha Verde também bebeu da sabedoria de Maitá, Licurí, Joité, Dendê, Gasolina, Siri de Mangue, Doze Homens, Espiridião, Juvêncio Grosso, Espinho Remoso, Neco, Canário Pardo e Tonha. Foi 3° Sargento no antigo Quartel do CR em Campo Grande, tendo participado também da Revolução de 32 entre outras pelejas. Durante muitos anos ensinou em seu Centro Esportivo de Capoeira Angola Dois de Julho, com sede no Alto de Santa Cruz, s/ n°, no Nordeste de Amaralina.
MESTRE WALDEMAR DE PERO VAZ - BA (1916 - 1990) "Um esporte que eu estimo é essa luta Angola"
Waldemar Rodrigues da Paixão, cantador absoluto, Capoeira desde rapaz, esteve presente nessa Roda, sempre ensinando com seu canto, mostrando como é que faz. Teve como seus Mestres, nada menos do que Siri de Mangue, Tanabí e Canário Pardo. Frequentador assíduo das Festas de Largo, tinha o seu barracão, na Liberdade, onde ensinava e promovia as suas Rodas, muito conhecidas e apreciadas por todos e frequentadas por capoeiras e artistas como o notável Carybé. Ficou conhecido também pela qualidade e beleza dos berimbaus que fabricava. Temido e respeitado, por todos com quem jogava, teve vários admiradores e alunos, dentres eles Zacarias. Muitos e muitos capoeiristas e estudiosos, várias vezes recorrem ao Mestre que sempre atendeu a todos com a simpatia e cortesia de um Capoeira genuíno. Hoje Mestre Waldemar anda por outras Rodas, porém aqueles que passam pela Avenida Peixe, na Liberdade, ainda podem sentir a sua presença e ouvir o seu inconfundível canto, acompanhado com seu "berimbau voizero".
MESTRE BIGODINHO - BA (1922)
Francisco de Assis é conhecido na Roda de Capoeira Angola como Bigodinho, na Roda de Capoeira Regional como Gigante e pelos mais antigos como Pequenininho. Iniciou-se na Capoeira no Jardim Suspenso da Barra, com Mestre Cobrinha Verde e depois foi aluno de Mestre Pastinha. "Mudou de partido" quando foi para a academia de Mestre Bimba. Parceiro de Menino Gordo (muitas vezes confundido com ele por ser muito pareceido) começou a ensinar no Seminário Central, passando depois para a sua Academia "Capoeira São Gonçalo", com sede à Rua Rodrigues Ferreira, 226, na Federação. Frequentador assíduo das Rodas no Lar das Pombas (aos domingos) e na Barra, no Jardim Baiano, Mestre Bigodinho tem no rol de sua criação o toque de Berimbau chamado "Cinco Salomão", que como ele diz é para "jogo miudinho, em baixo, jogo miudinho no chão, só embaixo". Além de ter participado do filme "Os Cangaceiros" e ser um exímio contador de "causos", Mestre Gigante, como bom e apaixonado seresteiro, não rejeita um bom violão para cantar e relembrar aventuras do passado.
MESTRE CAlÇARA - BA (1923 - 1997)
"Roupa de homem não dá em menino"
Antônio Conceição Moraes, quem já não ouviu falar do famoso Mestre Caiçara da Bahia? Cantador de primeira qualidade, contador de muitos casos e estórias da Capoeira, tem sempre uma boa reza para oferecer aos seus camaradas e por certo, aos não camaradas também. Figura muito conhecida das Festas de Largo de Salvador, Mestre Caiçara sempre está presente em qualquer festejo popular, portanto em sua camisa as cores vermelho e verde, promovendo sempre a sua Academia Angola São Jorge dos irmãos Unidos do Mestre Caiçara, cujo o nome também é o título de seu primeiro disco fonográfico gravado pela AMC, São Paulo, e encontrado ainda nas lojas de disco. Defensor radical das tradições africanas é sempre bom receber em Nagâ, Ketu, Gêge e Angola, suas bençãos e ouvir sua opinião sobre os grandes Capoeiras do passado e suas considerações sobre a Capoeira de hoje. Todas as tardes ele se encontrava no terreiro de Jesus confabulando, vendendo seu peixe e gingando, mas no dia 28 de agosto de 1997, ele nos deixou com sua arte e magia.
MESTRE CANJIQUINHA - BA (1925- 1994)
"A Capoeira é alegria, é encanto, é segredo"
Washington Bruno da Silva, nasceu em Salvador (BA), filho de D. Amália Maria da Conceição. Aprendeu Capoeira com Antônio Raimundo - o legendário Aberrê. Iniciou-se na Capoeira em 1935, na Baixa do Tubo, no Matatu Pequeno. "No banheiro do finado Otaviano" (um banheiro público). Filho de lavadeira, Mestre Canjiquinha foi sapateiro, entregador de marmita, mecanógrafo. Dentre outras atividades foi também jogador de futebol (goleiro) do Ypiranga Esporte Clube, além de cantor de boleros nas noites soteropolitanas. Participou também dos filmes "O Pagador de Promessas", "Operação Tumulto", "Capitães de areia", "Barra Vento", "Senhor dos Navegantes" e "A moça Daquela Hora". Além de fotonovelas com Sílvio César e Leni Lyra. Fundou o Conjunto Folclórico Aberrê, tendo sido Mestre de Antônio Diabo, Paulo dos Anjos, Burro Inchado, Madame Geny, Vitor Careca, Robertão e Brasília, dentre outros nomes da Capoeira atual.
MESTRE TRAÍRA - BA
José Ramos Do Nascimento, Capoeira de fama na Bahia, marcou época e ganhou notabilidade ímpar na arte das Rasteiras e Cabeçadas. Nodisco fonográfico, produzido pela Editora Xauã, intitulado "Capoeira" - hoje uma das raridades mais preciosas para os estudiosos e adeptos desta Arte - tem presença marcante envolvendo a todos os ouvites. Sobre a beleza e periculosidade do seu jogo, assim se referiu Jorge Amado: "Traíra, um cabloco seco e de pouco falar, feito de músculos, grande mestre de capoeira. Vê-lo brincar é um verdadeiro prazer estético. Parece bailarino e só mesmo Pastinha pode competir com ele na beleza dos movimentos, na agilidade, na rigidez dos golpes. Quando Traíra não se encontrana Escola de Waldemar, está ali por perto, na Escola de Sete Molas, também na Liberdade". Mestre Traíra também teve importante participação no filme "Vadiação", de Alexandre Robatto Filho, produzido em 1954, junto aos outros grandes capoeiristas baianos como Curió, Nagé, Bimba, Waldemar, Caiçara, Crispim e outros."
Mestre Paraná - BA (1923 - 1972)
Osvaldo Lisboa dos Santos, conhecido como Mestre Paraná, foi um dos melhores tocadores de berimbau de todos os tempos. Nasceu em Salvador - Bahia - em 1923, sendo o primeiro a tocar berimbau na orquestra sinfônica do teatro municipal do Rio de Janeiro. Participou também no filme "O Pagador de Promessas". Esse angoleiro nato, foi aluno do Mestre Antônio Corró ex-escravo na Bahia, viajou por todo o Brasil, mostrando a capoeira e o som inigualável do seu "gunga", gravando um compacto duplo pela CBS (Capoeira Mestre Paraná), fato este o primeiro que se tem notícia. Convidado por Mercedes Batista, foi a Portugal divulgar a capoeira jogada no Brasil.Mestre Paraná fundou o Grupo de capoeira São Bento Pequeno nos anos 50, do qual com muito orgulho, constitui toda a formação do grupo Muzenza. No dia 7 de Março de 1972, no IAPASE (Rio de Janeiro), vítima de um súbito colapso cardíaco, morreu cantando o grande angoleiro, deixando uma lacuna em nossa capoeiragem.
Mestre Gegê - RJ (1949)
Geraldo da Costa Filho, nascido em 09/04/1949 na cidade Maragogipe/BA. Conheceu seu primeiro mestre os 7 anos de idade, na praia de São Joaquim, hoje Feira de São Joaquim/BA. Iniciou os primeiros passos com o Mestre Sete que possuía este apelido, por ter nascido de sete meses.Em 1956 ingressou no colégio interno onde estudou música, dentre outras atividades. Oriundo dos proprietários de navios negreiros. Em 1965 mudou-se para o Rio de Janeiro mas sempre viajava para sua terra natal, onde apartir de 1968 passou a frequentar o terreiro do Mestre Valdemar da Paixão e Traíra, no bairro de Pero Vaz em Salvador. No final da década de 1960, começou a frequentar as rodas de capoeira do Rio de Janeiro levado pelo seu irmão capoeirista, onde conheceu Touro da Penha, Mintirinha, Paulão, Corvo, Sillas, sendo todos na época alunos do Mestre Mintirinha.Seu último Mestre foi José Pedro do grupo Gaiamus - Nagos. Formado em história e hoje pertence ao departamento de pesquisa de historiadores do Grupo Muzenza.
Mestre João Grande - NY - USA (1933)
"A capoeira é como o mar, as ondas vão e vem!" João Oliveira dos Santos, Mestre João Grande, nascido na cidade de Itagí (BA), iniciou-se na Capoeira pelos ensinamentos de Vicente Joaquim Ferreira Pastinha (Mestre Pastinha). Já percorreu vários países da Europa, África e América do Norte - com o Grupo Folclórico "Viva Bahia", coordenado pela professora e folclorista Emília Biancardi - divulgando a sua arte e a obra de seu mestre. Foi condecorado, em 1990, com a Medalha do Mérito Desportivo, uma das mais altas condecorações na área do Esporte do Brasil. Mestre João Grande gravou, também em 1990, pelo Programa Nacional de Capoeira, o seu primeiro disco solo. Hoje, estabelecido em Nova lorque, é considerado um dos Mestres mais importantes da Capoeira Angola.
Mestre João Pequeno - Araci - BA (1917)
"A capoeira é uma coisa que nasce no sangue da gente. Na natureza e no espírito".
João Pereira dos Santos, o Mestre João Pequeno, nasceu na cidade de Araci (BA). Discípulo de Mestre Pastinha, que o apelidou de "Cobra Mansa", teve seu primeiro contato com a Capoeira por intermédio de Barbosa e Juvêncio. Gravou seu primeiro disco solo pelo Programa Nacional de Capoeira em 1990. Hoje é muito prorurado por alunos do Brasil e do exterior como uma das, referências vivas da Capoeira Angola. É o capoeirista mais velho do Brasil vivo.
Mestre Tony Vargas - RJ (1958)
Antonio César de Vargas, nasceu em 5 de abril de 1958, começou capoeira em 1968 com o Mestre Rony (do Grupo Palmares de Capoeira). Depois foi aluno do Mestre Touro, do grupo corda Bamba, na qual teve a honra de ser Cordel Azul. Em 1977 ingressou no grupo senzala para ser aluno do Mestre Peixinho que o formou com a corda vermelha em 1985. É formado em ed. física e pós-graduado em dança. Participou de diversos discos e tem músicas gravadas em vários CD´S, tem um cd gravado, e desenvolve um trabalho com crianças e coordena uma instituição de educação infantil. Mestre Tony é um dos maiores poetas da capoeira - foi homenageado pela Superliga Brasileira de Capoeira como um dos melhores do século em Curitiba - PR pelo Mestre Burguês em 09/09/2000.
Mestre Acoordeon - Califórnia - USA (1943)
Ubirajara Guimarães Almeida nasceu em Salvador em 1943 iniciou-se na capoeira em 1956 e foi um dos alunos do Mestre Bimba que mais se destacou. Em 1959 começou a ensinar capoeira e em 1961 abriu sua 1º academia denominada Quilombos.Atualmente ensina capoeira na cidade Berkeley Califórnia - USA. Já gravou vários cd´s e editou três livros.
Mestre Mintirinha - RJ (28/08/1950)
LUIZ AMÉRICO DA SILVA Aos 28 dias do mês de agosto do ano de 1950, no hospital de Bonsucesso, nasce Luiz Américo da Silva, o MESTRE MINTIRINHA. No ano de 1956, já aos 6 anos de idade, Luiz Américo estava acompanhado de sua mãe, passando por Bonsucesso, depois da Avenida Itaoca, escutou um som diferente, então desconhecido por ele, e pediu que sua mãe o levasse para ver do que se tratava, chegando lá para viu que era o som de um berimbau, e ficou fascinado com o que tinha visto, pessoas treinando uma luta ao som daquele instrumento que o encantara tanto, e então pediu para que sua mãe o matriculasse no GRUPO DE CAPOEIRA SÃO BENTO PEQUENO, que tinha como Mestre o Sr. Osvaldo Lisboa dos Santos, conhecido como MESTRE PARANÁ, que não cobrava nada e dava as suas aulas no fundo de um quintal.Devido a uma historinha, assim como em sua música, que chegou contando um dia, o Mestre Paraná disse: Agora conta outra “Mintirinha”, daí ficou apelidado de MINTIRINHA, sendo que teve outros apelidos, como Índio por exemplo.Mais tarde, já com seus 15 anos de idade, no ano de 1965, começou a dar aulas de capoeira para uma turma.Com mais ou menos quinze ou dezesseis anos, no ano de 1966, estava numa roda na quadra da ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA, quando Mestre Paraná o apresentou como Mestre Mintirinha.Nesta época existiam três grupos de capoeira, o Grupo de Capoeira São Bento Pequeno do Mestre Paraná, que ficava em Bonsucesso, o do Mestre Artur Emídio que ficava em Higienópolis e o do Mestre Mário Santos, da Bonfim, que ficava em Olaria. Sendo que o Luiz Américo, já apresentado como Mestre Mintirinha, foi convidado pelo Mestre Mário Santos para dar aulas na academia dele, no ano de 1966.Durante a sua vida como capoeirista o Mestre obteve várias glórias, algumas quando se consagrou como o 1º CAMPEÃO BRASILEIRO DE CAPOEIRA, TETRACAMPEÃO INTERESTADUAL DE CAPOEIRA PELA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE PUGILISMO, e muitas outras glórias.O Mestre é conhecido onde quer que vá, basta que seu Gunga faça o chamado para se saber que naquela roda encontra-se o mais antigo Mestre de capoeira da cidade do Rio de Janeiro. Além disto ainda é um excelente percursionista.O Mestre conheceu 18 países, teve a oportunidade de gravar com Paul Simom, conheceu Maria Bethânia ainda jovem.Durante um certo tempo de sua vida o Mestre trabalhou no Instituto Padre Severino, onde lecionou capoeira. Após conhecer a Sra. , Cleide, Hoje sua esposa, que o estimulou a dar aulas em academias, fundou o GRUPO TERRA DE CAPOEIRA, que já existe a 9 anos. O Mestre foi um dos primeiros capoeiristas a dar chutes em sacos de 120 Kg , o primeiro a quebrar mesas, telhas e outras coisas.O Mestre recebeu a maior honra dada a um Cidadão do Estado do Rio de Janeiro que é a Comenda Tiradentes na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.Algumas frases do Mestre entre outras que ficaram na história.- “EU SOU O VENTO, EU PASSO ONDE VOCE NÃO PASSA , E QUANDO EU PASSO, VOCE NÃO FICA”- “SOU APENAS UM GRÃOZINHO DE AREIA NUM OCEANO CHAMADO CAPOEIRA, O MESTRE SE CHAMA DEUS.”

Dá-se o nome

Dá-se o nome de Capoeira, a um jogo de destreza que tem as suas origens "remotas" em Angola. Era antes uma forma de luta muito valiosa na defesa da liberdade de fato ou de direito do negro liberto, mas tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, à cerca de cem anos, se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com esse caráter inocente, a capoeira permanece em todos os estados do Brasil.
Tratava-se de um combate singular em que os "moleques de Sinhá", apenas demonstravam sua capacidade de ataque e defesa sem, contudo, atingir efectivamente os oponentes. Foi durante a escravidão que o jogo de Angola começou a crescer e chegou à maioridade no Brasil.A discussão é interminável: pesquisadores, folcloristas, historiadores e africanistas ainda buscam respostas para a seguinte questão: " A capoeira é uma invenção africana ou brasileira? " Teria sido uma criação do escravo com fome de liberdade ? Ou invenção do indígena? As opiniões tendem para o lado brasileiro, e aqui vão alguns exemplos: no livro "A Arte da Gramática de língua mais usada na Costa do Brasil" do Padre José de Anchieta, editado em 1595, há uma citação de que "os índios Tupi-Guarani, divertiam-se jogando capoeira". Guilherme de Almeida no livro "Música no Brasil", sustenta serem indígenas as raízes da capoeira. O navegador Português Martim Afonso de Sousa, observou tribos jogando capoeira. Como se não bastasse, a palavra "capoeria" ( CAÁPUÉRA ) é um vocábulo Tupi-guarani, que significa "mato ralo" ou "mato que foi cortado".Num trabalho que foi publicado pela XEROX do Brasil, o professor austríaco Gerhard Kubik, antropólogo e membro da associação mundial de folclore e profundo conhecedor de assuntos africanos, diz estranhar " que o brasileiro chame capoeira de Angola, quando ali não existe nada semelhante".Também o estudioso Waldeloir Rego, que escreveu o que foi considerado o melhor trabalho sobre este jogo, defende a tese de que a capoeira foi inventada no Brasil. Brasil Gerson, historiador das ruas do Rio de Janeiro, acha que o jogo nasceu no mercado, quando os escravos chegavam com cesto (capoeira) de aves na cabeça e até serem atendidos, ficavam brincando de lutar, surgindo daí a verdadeira capoeira. Antenor Nascente, diz que a luta da capoeira está ligada à ave Uru (odontophorus capueira-spix), cujo macho é muito ciumento e trava lutas violentas com o rival que ousa entrar em seus domínios (os movimentos da luta se assemelham aos da capoeira). Por fim, Câmara Cascudo, afirma "ter sido trazida pelos banto-congo-angoleses que praticavam danças litúrgicas ao som de instrumentos de percussão" transformando-se em lutas aqui, no Brasil, devido à necessidade de defesa destes negros!Ouviu-se falar de capoeira pela primeira vez, durante as invasões holandesas de 1624, quando os escravos e índios, (as duas primeiras vítimas da colonização), aproveitando-se da confusão gerada, fugiram para as matas. Os negros criaram os Quilombos, entre os quais o mais famoso Palmares, cujo líder foi Zumbi, guerreiro e estrategista invencível diz a lenda, diz ter sido capoeira. Após esta época, houve um período obscuro e no renascimento do século XIX, transformou-se em um fenômeno social, que tomou conta de centros urbanos como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife.As maltas de capoeiristas inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro, e se tornavam um problema para os vice-reis. Espalhavam-se pela cidade, acabando com festas, colocando a polícia para correr, tirando a teima dos valentões... defendiam sua precária liberdade, ora empregando apenas agilidade muscular, ora valendo-se de cacetes de facas. Foi então que apareceu o major Vidigal, chefe da polícia do Rio de Janeiro, nos começos do século XX: um diabo de homem que parecia estar em toda a parte com seus granadeiros armados de longos chicotes, protegidos pela distância na qual mantinham os capoeiristas e os podiam ofender a salvo.A literatura de Machado de Assis e a arte de Debret, registravam a presença da capoeira nos costumes da época. Os capoeiristas viviam em "maltas", verdadeiros bandos que recebiam apelidos como "guaiamus" ou "nagôs". As "maltas", tiveram participação ativa em fatos históricos como: a revolta dos mercenários (soldados estrangeiros contratados para a guerra do Paraguai se rebelaram e foram rechaçados pelos capoeiristas), nas escaramuças entre monarquistas e republicanos e até na Proclamação da República. As maltas da Bahia foram desorganizadas por ocasião da guerra do Paraguai: o governo da província, recrutou a força dos capoeiras, que fez seguir para o sul como "voluntários da pátria". Manuel Querino, conta que muitos deles se distinguiram por atos de bravura no campo de batalha. Quando brigavam entre si, o grito de guerra assustava os estanhos ao ramo: "fêcha, fêcha!" significava o início de briga e ai de quem estivesse por perto.Consta que a guarda pessoal de José do Patrocínio e do próprio imperador de D. Pedro I, era formada por capoeiristas. Esse prestígio começou a cair com as leis abolicionistas: sem aptidão de qualquer espécie, uma massa humana disputava mercados de trabalho inexistentes. O jogo corporificou-se como instituição perniciosa e sua extinção passou a ser a palavra de ordem. As maltas converteram-se em grupos poderosos de proteção a negócios escusos e à audácia culminou com Decreto-lei 487, decretado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, em 1890: a partir do dia 11 de outubro, todo o capoeirista pego em flagrante seria desterrado para a Ilha Fernando de Noronha por um período de seis meses.Ainda assim, a capoeira mostrou sua força: ao ser detido um de seus mais temíveis praticantes, o nobre português José Elísio dos Reis ( Juca Reis ), preso por Sampaio Ferraz. O governo republicano sofreu sua primeira crise ministerial. Juca Reis era nada menos do que irmão do Conde de Matosinhos, dono do jornal "O País", o mais ferrenho defensor da causa republicana. Nas páginas do jornal, Quintino Bocaiúva defendeu com unhas e dentes a liberdade de Juca e o governo do Marechal foi obrigado a voltar atrás: ele acabou retornando para Portugal.O mais famoso dos capoeiristas nacionais era natural de Santo Amaro, na zona canavieira da Bahia, e tinha os apelidos de Besouro Venenoso e Mangangá. Era invencível e inigualável. Ainda hoje as chulas da capoeira cantam suas proezas lendárias. A hora final chegou para as maltas do Recife mais ou menos em 1912, coincidindo com o nascimento do Passo do frevo, legado da capoeira.A RessureiçãoO decreto-lei 487, acabou temporariamente com a capoeira. Muitos de seus adeptos permaneceram exilados em São Paulo, no interior, participando de trabalhos forçados.Mestre Bimba, é considerado o pai da capoeira moderna, não só por ter atuado decisivamente na libertação, mas também por ter sido o primeiro a dar-lhe uma didática e ensinar em recinto fechado. Mestre Bimba criou o estilo "Regional". O estilo "Angola" teve em Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, seu mais digno representante.Hoje, a capoeira não é mais privilégio da Bahia ou do Rio de Janeiro, tendo se espalhado por todo o Brasil com grande aceitação. Tornou-se um esporte competitivo, segundo a resolução do conselho Nacional de Desportos, em 1972. No exterior já se praticava em mais de 60 países.A música faz-se notar com grande influência na capoeira. Poucas são as lutas ou muito raras aquelas que tem suas evoluções marciais interligadas aos sons de instrumentos.
A capoeira tem em seu conceito de arte marcial, afinidades que chegam quase a ser uma necessidade musical.Sons de percussão dando um ritmo ao corpo, que com as vibrações sonoras anima-se ao ponto tal estudiosos já aceitam que o som usado na capoeira, provoca reações conscientes e inconscientes de força no capoeira.O capoeira entrega seu corpo e mente àquele som, com grande interpretação psicológica e expressão corporal. Juntos, os dois conseguem na capoeira, um resultado fascinante, onde a musicalidade é parte fundamental no conjunto da luta.A música traz a uma roda de capoeira, muita força psicológica, uma união de todos aqueles que dela participam. Dessa união a força de pensamento interna de cada um traz uma emoção forte e vibrante aquela roda. Em contra partida, uma mesma roda de capoeira sem música ou outro som, não desperta a mesma motivação, deixando seus participantes menos excitados e até mesmo desconcentrados.As letras das músicas, em sua maioria simples, falando dos escravos, das senzalas, da liberdade oprimida... mas se interpretadas com o sentimento que transmitem, muitas delas trazem alguma ou muita emoção a quem canta, e a quem ouve.
"Praticar capoeira, é uma das formas mais simples de expressar o desejo de ser livre nos movimentos, e de ser brasileiro de fato"